terça-feira, 31 de julho de 2012

O Ouro do Rei - Arturo Pérez-Reverte



Sinopse:
Este é o livro número 4 das aventuras do Capitão Alatriste, figura criada por Arturo Perez-Reverte e que já vendeu mais de CINCO MILHÕES de exemplares!
De regresso a Espanha, (após a Conquista de Breda) o capitão Alatriste vê-se envolvido numa missão de vida ou de morte…
Sevilha, 1626. No seu regresso da Flandres, onde participaram no assédio e rendição de Breda, o capitão Alatriste e o jovem pajem Íñigo Balboa recebem a incumbência de recrutar um pitoresco grupo de bravos e espadachins, entre eles, Saramago, o Português, para uma missão perigosa, relacionada com o contrabando do ouro que os galeões espanhóis trazem das Índias. O submundo da turbulenta cidade andaluza, o Patio de los Naranjos, o calabouço real, as tabernas de Triana, os areais do Guadalquivir, são os cenários desta nova aventura, onde os protagonistas reencontrarão traições, lances e estocadas, na companhia de velhos amigos e de velhos inimigos.

Comentário:
A literatura espanhola passou já a ser, para mim, um mundo misterioso e de uma beleza artística extraordinária. No entanto, cada livro de Reverte já não é uma surpresa mas mais uma confirmação. Neste caso específico, trata-se de mais um episódio de uma série que Reverte escreveu na fase inicial da sua carreira, sem grande profundidade literária mas com um traço de génio que lhe permitiu vender mais de cinco milhões de exemplares em todo o mundo, em mais de 30 traduções.
Ler um destes livros é regressar à adolescência em que todos nós nos deixámos deleitar por livros e filmes de capa e espada. É deixarmo-nos levar pelo entusiasmo do picaresco, da emoção de um duelo, do encantamento dos espadachins a fazer lembrar os mosqueteiros de Dumas.
Mas este Capitão Alatriste tem algo de ainda mais interessante: um suave tom quixotesco, tanto no idealismo quase épico do herói como na tonalidade humorística com que todo o livro é polvilhado. Alatriste é herói e anti-herói, justiceiro e vilão. Esta dualidade deriva de uma outra, bem mais profunda que perpassa toda a obra literária de Reverte: o patriotismo bem latino em paralelo com uma tremenda dimensão crítica face à história de Espanha.
Na realidade, este génio espanhol da literatura não deixa nunca de apontar o dedo aos defeitos estruturais da alma espanhola, bem similar à portuguesa: apesar da vocação marítima, o governo sempre tendeu a desprezar aqueles que, de facto, revelavam talento, em favor dos seus protegidos. A corrupção não é, de facto, exclusivo de Portugal nem dos tempos atuais.
Por outro lado, o mal eterno da Espanha como de Portugal: “aquela riqueza acabou por ser aproveitada por todos menos pelos espanhóis: com a Coroa sempre endividada, gastava-se antes de receber.”
Mas não é pelas interpretações históricas que este livro nos deixa agarrados à leitura; é pela emoção, pela incerteza no desenlace.
A parte final do livro é verdadeiramente emocionante, com o assalto ao navio que pretendia desviar o ouro da coroa espanhola. É nesta fase que entra em cena um personagem português, o Saramago, que mais não é que uma belíssima homenagem de Reverte ao imortal José Saramago. Às vezes, de Espanha também veem bons ventos…
Em suma, não é uma obra-prima porque não é um livro que nos ofereça pontos de vista originais ou nos surpreenda de qualquer forma. Mas é uma leitura tão agradável como qualquer clássico de capa e espada. Penso que só isso já é suficiente para valer a pena percorrer esta primeira fase da escrita deste que é, em minha opinião, o melhor escritor espanhol da atualidade.

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