terça-feira, 10 de julho de 2012

O Nosso Agente em Havana - Graham Greene


Sinopse:
Um representante de uma pequena empresa inglesa de aspiradores, lojista quase arruinado, vive angustiado com os eternos motins de Cuba. Os negócios vão mal, muito mal e Milly, a sua bela filha, atormenta-o com os seus caprichos.
Então, sob a forma de Mr. Hawthorne, um enigmático cavalheiro que faz apelo ao seu sentido patriótico, explica-lhe coisas tão estranhas como o modo de usar um livro de cifra, ou tinta invisível, ou a utilidade das chaleiras elétricas para a abertura de cartas - a tentação surge. Pouco a pouco, como aliás explica Hawthorne aos seus superiores hierárquicos em Londres, a imaginação do pobre comerciante põe-se a trabalhar. E como, no nosso mundo, a realidade não é coisa que se enfrente, a imaginação assim estimulada virá a revelar-se mais verdadeira do que o próprio real…

Comentário:
Graham Greene é, definitivamente, um dos melhores contadores de estórias da literatura do século XX. Na verdade, este escritor católico inglês deixa-nos sempre sem fôlego perante uma escrita tão fluente e tão “limpa”, despojada de qualquer adorno desnecessário ou divagação estéril.
Esta escrita sintética, onde nada é inútil ou dispensável, nunca cai, no entanto, naquele laconismo da frase curta, estilo SMS que por vezes encontramos por aí. Greene consegue, a meu ver, o equilíbrio perfeito na economia da escrita.
Este romance é, em grande parte, uma espécie de paródia à euforia quase histérica da espionagem internacional nos tempos da guerra fria. No entanto aqui encontramos alguns estereótipos do humanismo literário, muito bem explorados:
O agente secreto que é personagem principal da estória, Mr. Wormold, não passa de uma caricatura do espião, um personagem ao mesmo tempo credível e risível, com um toque de ridículo. No entanto, é impossível não simpatizar com ele, que engana os ingleses sistematicamente inventando situações de espionagem que o deixariam visto como um espião genial.
A filha, Milly, é uma adolescente boémia, desmiolada, mas católica e até algo beata; trata-se de uma personagem excelente por causa deste contraste que Greene aproveita muito bem para deixar um certo traço de cinismo crítico.
Mas o aspeto que mais agrada neste livro é sem dúvida do sentido de humor, bem na linha daquela que é, a meu ver a sua obra prima (O Cônsul Honorário). Trata-se de um humor sarcástico, cínico e perfeitamente encaixado no período em que Greene escreveu: o início da guerra fria. Um exemplo bem expressivo: Wormold, para satisfazer os ingleses, desenhou as peças de motor de um aspirador, numa escala muito maior. Os ingleses adoraram o seu trabalho genial porque acreditaram tratar-se de terríveis máquinas de guerra russas instaladas pelos rebeldes apoiados pelos russos. Obviamente tudo se complicará quando os ingleses exigem fotografias…
Em suma, estamos perante uma obra leve, que faz rir e sorrir, num estilo fácil e desenvolto mas que não deixa de refletir um lado sério da questão: a guerra fria e o jogo por vezes ridículo da espionagem internacional que marcou uma época.

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